Os traumas sao lixados... dao-nos cabo da cabeça, do coraçao, da alma... tiram-nos umas coisas e deixam-nos outra: o medo de cair ou que alguém caia na esparrela...
é como por exemplo, ser assaltado na rua tal... o nosso sistema (ou sera que é so o meu?) cria uma barreira cujo nome é medo, e faz-me recear essa rua para o resto da vida... ou pelo menos durante muito tempo...
Lembro-me de quando era miuda, tocar sempre a campainha dum velho rabugento que vivia na minha rua, so para o fazer vir ao portao, so para lhe dar trabalho, so para o incomodar... tocava a campainha e perninhas para que vos quero, la corria rua acima (também era esperta a magotes, nao é? escolhia logo a direcçao mais complicada para fugir...). Certo dia, ja o senhor devia estar fartinho das brincadeiras e pos-se a escuta... eu como costume, passei la e toquei a campainha, saltando logo de seguida quando ele se levantou e dei de caras com aquele rosto enrugado... Depois disso, nunca mais consegui tocar a campainhas so para gozar... alias, deixei de ver gozo nisso... O meu sistema criou uma barreira, um receio que me impedia...
Ao longo da vida vamos passando por pequenos e grandes traumas, que nos moldam, que criam barreiras a nossa volta, que nos tornam mais fortes, mas sempre simultaneamente mais fracos, mais vulneraveis, mais desconfiados...
O meu "hóme" diz que nao posso medir toda a gente pela mesma medida, que os homens nao sao todos iguais, nao sao todos seres sem escrupulos... ele diz-me que nao tenho que ter medo toda a vida, que nao tenho que pensar sempre o mal...
Eu confio nele, e se algum dia desconfiei dele, que me de ja uma dor de barriga... ele sabe que nao.
Mas a verdade é que me tornei uma pessoa muito alerta. Muito desconfiada. Qualquer coisa ja vejo coisas estranhas e suspeitas...E pior é que tenho um fdp de um sexto sentido maravilhoso... este trauma da cabo de mim... continua a perfurar-me o coraçao e a escurecer a minha alma. Nao queria mas continua... Sou tipo lince... e acreditem, odeio isto...
Os traumas sao mesmo assim, fazem-nos aprender, preparam-nos para uma futura e possivel queda, mas também levam algo em troca, um bocadinho de nos... porque mesmo quando nao queremos, vemos o perigo, para nos e para os nossos, ao virar da esquina, por vezes até na campainha da porta do nosso vizinho...
Quando o sol entrou esta manha pela janela do meu quarto, fiquei uns minutos a pensar "Ok, é agora que me levanto!". Estes dias sao raros por aqui... Dias razoavelmente quentes e solarengos...
E é por isso que quando o sol da o ar da sua graça, muitas vezes me recordo dos meus tempos de miuda... as férias de verao pareciam durar uma eternidade. Eu andava descalça no patio, cujo pavimento me esquentava os pés. Com a mangueira molhava-mo-nos todas, para depois secarmos ao sol. Ir a mercearia era uma tortura porque o calor era extremo e a vontade de andar dez minutos a pé era nenhuma... As quatro e meia da tarde o cheiro a café torrado, que tornava o ar mais saturado. Mas era tao bom aquele cheirinho... Sabiamos que estava na hora do lanche...
As idas a praia, ou a beira-rio, as férias em Lisboa ou no Alentejo... ou os dias passados naquela vilazinha nos arredores do Porto, que sera sempre o meu lar.
Saudades... de tempos que nao voltam. Saudades dos cabelos desgrenhados, da despreocupaçao, da inocencia. Saudades do calor... de ver o calor sair da estrada... e do cheiro a terra molhada, quando por fim chovia... mas ha cheiro mais agradavel que esse? Nao... Aquele cheiro a terra virgem acabada de ser regada...
é por isto que adoro quando aqui faz sol...Nao é para ir até a praia, porque a praia fica a cem quilometros de distancia... nao é para sentar na esplanada, apesar de também me agradar a ideia... nao é para vestir a roupa de verao, porque chego sempre a triste conclusao que engordei de um ano para o outro... é principalmente porque me traz um bocadinho dos meus tempos na Rua da Ramada Alta em Silveirinhos, apesar de ter saido de la com os meus nove anos... é principalmente, porque apesar de todos os problemas que os meus pais poderiam ter na altura, eu era uma criança, e foi nessa altura que vivi o que com mais carinho guardo na minha memoria...
Esta sol hoje...e por momentos nao estive aqui... por momentos nao estive em Antuérpia...
Hoje quando abri o meu email tinha um mail do Hi5. "Da os parabéns ao Ernesto." O Ernesto é aquele meu amigo que faleceu ha quase um ano e meio, num acidente de mota. é aquele meu amigo, que quando vi na morgue, mantinha o mesmo sorriso, como se estivesse a dormir. é aquele meu amigo que uma semana antes queria ir ao solario comigo... que um dia antes da sua morte se despediu, sem saber que seria a ultima vez. é aquele que nos momentos de sofrimento que passei me chamava "Babe", dizia que eu era a mulher que qualquer um queria e que eu ainda ia arranjar um homem melhor (nao se enganou!). O Ernesto é aquele que ainda vejo no rostinho da filhinha de tres anos...
O Ernesto hoje fazia anos...
Mas o que me custou neste momento, foi mesmo receber a tal notificaçao... O Ernesto morreu e sinceramente doi-me receber este tipo de mails... e acho uma estupidez nao apagarem o Hi5 dele... nos nunca nos vamos esquecer do mouro entre os tripeiros. Mas estes sentimentos estranhos pela manha sao de evitar...
Mas, eu dou-te os parabéns, no meu coraçao... (e ja passou tanto tempo... parece que foi ontem...)
é optimo quando duas gaijas se juntam...
Melhor ainda quando se bebe um copo de champanhe antes do prato principal...
Optimo quando se pede uma garrafa de vinho que custa 65 euros...
Uma maravilha quando no restaurante chiquérrimo como o carago olham para nos com medo que nao tenhamos dinheiro para pagar, quando uma delas é podre de rica, apesar da outra (eu) ser uma pobretanas.
Mau, mau é no dia seguinte ter que trabalhar... é que a minha cabeça esta quase a rebentar, e os olhos? Pesados, pesados, pesados... Ai vida...
Quando eramos miudos brincavamos ao super-homem e aos policias e ladroes...
Tu eras o policia... eu era a advogada (devia estar ja a fervilhar no sangue), e os ladroes eram todos os outros que queriam brincar connosco...
Eramos namorados mas so a brincar, so quando teciamos a cortina do nosso teatro...
Eramos pequeninos... crescemos e fomos sempre confidentes...
Ainda me lembro das tuas palavras quando entre lagrimas me disseste, aquando da minha partida para a Bélgica:
- Prima, nao vas... pensa bem... agora tens carta, empresto-te o meu carro sempre que queiras...até podes ficar la em casa a viver...
Naquele momento sorri, abracei-te e pedi para me ajudares com as malas até ao carro. Voltei a abraçar-te e entrei. E chorei muito...
No ano passado, quando casaste com a A. fiz questao de pagar um balurdio por um bilhete de aviao e estar ai 3 dias e meio para fazer parte do dia mais feliz da tua vida... sim, porque tu casaste com aquela que amaste sempre... E mais uma vez chorei, na igreja... e houve quem pensasse que era por outro motivo, mas nao...nao era por imaginar o meu casamento. Era sim por te ver tao crescido, por nos ver tao crescidos... por te ver casar com quem querias e por te sentir tao feliz... é que as vezes bate uma saudade...
E porque agora bateu de novo...E anseio a noticia da chegada de um priminho... e penso em ti, porque és e sempre seras o meu irmao mais velho...
Afinidades, que é que se ha-de fazer??
um bom bacalhau a Gomes de Sa em casa de uma amiga...
E uns miseros 15 dias para as tao ansiadas férias em Setubal e Ibiza, que passarao a correr tendo em conta a quantidade de trabalho que tenho...
Estamos todos tao crescidos...
Deem-me um céu, um sol e umas arvores e sou feliz...
Deem-me um sorriso, uma mao, um beijo e sou eu em plenitude...
Deem-me os acordes de uma viola e sinto-me...
Deem-me o que peço, e encosto-me no meu canto...
Desfruto dos sons e da vista...
Os pelos eriçam-se-me de emoçao...
Os olhos, marejados, fitam sem temer...
As maos tocam, sentindo e amando...
Olhar com olhos de ver e sentir com o coraçao,
Tocar com a mao e a alma,
Porque a vida é mesmo isto... Um rol de passagens, por vezes breves, outras mais longas, mas situaçoes, momentos, sentimentos, que passam... sentir, amar, sonhar, sem que haja um amanha... Porque o amanha esta tao perto, mas sera que chega?
Quando me iniciei no mundo dos blogues, no fim de Agosto de 2008, nao fazia ideia do que isto era...criei a conta e tumbas... ja esta!
A empatia criou-se logo com algumas pessoas... como por exemplo com o meu homem, com quem troquei galhardetes porque ele tinha a mania que era machista e porque eu sou feminista! Ainda me lembro quando ele disse que as mulheres que escreviam em blogues sao feias porque as bonitas estao na rua a namorar... Ja na altura ele estava com viagem semi-marcada para a Bélgica... e depois, quase sem querer conhecemo-nos num café portugues em Antuérpia...
Lembro-me que uma das primeiras pessoas a comentar o meu blog foi a Pankas... Desde inicio criou-se empatia e fomos conhecendo-nos melhor... Existem algumas pessoas deste mundo, que no fundo é tao real, que eu gostaria de conhecer, e uma delas é a Patricia... Ja esta combinado que sera em Junho, so ainda nao esta data marcada...
Hoje quando cheguei a casa tinha uma encomenda de Portugal... um livro e um postal (muito giro mesmo!) enviados pela Pankas... Adorei mesmo, acima de tudo pelo gesto de carinho que significou... Obrigado amiga :) E Junho esta mesmo a porta :) beijo grande para ti e o Marco !!!
Update: Beijo pa minha Rafita que me ligou e deu a letra comigo durante vinte minutos :) Beijo com a penca, pequenina :)
Acho que a ultima vez que falamos foi em Fevereiro... nao temos tempo para estar mais vezes juntas, mas muito do que tenho aqui na Bélgica devo a nossa amizade... Talvez por nunca ter aceite que ela pagasse sempre tudo, apesar de ser rica e eu trabalhar, nunca me ter colado a ela para nada, e ter sempre uma palavra a dar-lhe nasceu entre nos uma grande amizade... Fui madrinha do casamento dela e nao foi pela prenda que lhe pudesse dar, porque no meio dela, é tudo de "pastel".
Na pior fase da minha vida chorei noites e ela chorou abraçada a mim... Quando precisei passou-me durante uma semana o seu SAAB 93 Sport descapotavel para as maos, e a chave da sua vivenda para eu tirar uns dias para espairecer...
As vezes acho que nunca fiz tanto por ela como ela por mim...
Uma vez disse-lhe isso e ela recordou-me uma situaçao que se passou e eu estava la... Foi entao que mais uma vez percebi que o que nos une é mesmo amizade...
Mas como disse, ja nao falavamos desde Fevereiro... Hoje ligou-me para perguntar o que ia fazer amanha a noite. Disse-lhe que ia jantar com a familia.
" Nao faz mal! Quando eu voltar da Estonia (o seu pais materno) na proxima semana, encontra-mo-nos para jantar e comemorar o teu aniversario..."
Nunca se esquece de mim...
Somos o oito e o oitenta... Ela consegue gastar 4000 euros em roupa num dia, eu conseguiria gastar tanto, mas nunca gastei sequer 400... Ela é loira, eu tenho o cabelo escuro... ela tem olhos azuis e pele branca, eu tenho olhos castanhos e pele morena... ela mede perto de 1.80m, eu meço 1.60m... Ela é magra, eu encho bem as costuras... Ela toca piano, eu escrevo... Somos tao diferentes e tao amigas...
Sao pessoas como ela e a minha Soninha que me fazem acreditar que a amizade é mais do que meras palavras...
Sim, existem amizades verdadeiras...