Sexta-feira, 19.09.08

 

5 de Novembro de 2005
 
Tenho andado muito ocupada. Entre trabalho, bebida e falta de vontade de escrever, tenho mantido os meus escritos de lado. Comecei um curso de psicologia. Nada de especial na verdade. Mas queria manter a cabeça mais ocupada. 
 
Estou mesmo a tentar deixar a bebida. Mas confesso que pensei que seria mais fácil. Sempre disse que deixaria a bebida quando quisesse… mas agora sei que não é bem assim. Quero parar e não consigo.
 
Hoje vou directa para o trabalho. O Hugo está doente. Um outro colega despediu-se, e hoje começa um novo. Vamos ver como corre.
 
Não gostei dele. À primeira vista pareceu-me muito vaidoso, orgulhoso. Tem trinta anos e veste Armani. Tem os dentes brancos e muito certos. Os olhos escuros são grandes e brilhantes. O cabelo castanho claro tem um tom camarelado em contraste com a pele morena. Parece que faz praia o ano todo. Faz covinhas quando ri. Tem uma aparência estranhamente tentadora… O género de homem que só nos faz pensar : « se me envolvo, tenho sarilhos ».
 
É muito educado. Faz as devidas pausas ao falar. Sabe falar. Quando me olha, observa-me. Estuda-me. Quer saber mais. Ou entao sabe mas não quer dizer.
 
Fui eu que lhe fiz as honras da casa. Pu-lo a par do trabalho e expliquei-lhe como funcionava o trabalho entre nós. Ele ouviu e aceitou tudo com uma humildade que me surpreendeu. 
 
Depois de um extenuante dia de trabalho passei por casa da Marcela. Desta vez toquei à campaínha. Ela veio abrir, com a menina ao colo.
-         Sofia ! querida ! Entra !
-           É bom ver-te animada. – sorri, disfarçando a preocupação. 
-           Oh! Está tudo bem ! Porque não estaria animada ? Tenho que te mostrar o que o Jorge me ofereceu ! E eu nem faço anos !
Confesso que fiquei admirada, mas gostei de saber que ele estava a dar mais atenção à esposa.
Puxou-me para o quarto.
-         Ele ainda não sabe que eu já vi a prenda – sussurrou. Abriu uma caixinha vermelha e de lá tirou uma pulseira de diamantes. Líndissima. – Hoje de manhã fui à mala dele procurar a chave do jeep, e quando vi isto, com este postal, só me apetecia chorar de felicidade ! – mostrou-me o postal que dizia : « para a mulher que ilumina os meus dias e me faz sentir o homem mais louco do Mundo ! ».
Não era para ela… o presente não era para ela… mas eu não lhe podia contar. Não podia destruir a momentânea felicidade que se tinha apoderado dela.
-         É concerteza muito bonita, amiga. Muito mesmo !
-         Também achei! Mas ele bem que me podia perguntar se eu gostei ou não ! Já lhe liguei mas ele não podia atender, até agora não me ligou de volta. Mas não faz mal, porque depois de um presente assim não tenho direito de o perturbar !
« Meu deus, como estás cega… » - pensei eu para mim.
-         Vamos até ao parque ? – perguntei.
-         Sim, vamos, vou chamar os miúdos.
 
O sol ainda brilhava. Enquanto passeavamos, conversavamos sobre as nossas vidas. Sobre quando ela conheceu o marido dela e eu o meu. Sobre as nossas travessuras em crianças, sobre a nossa amizade, sobre o quanto nos amavamos uma à outra. Eu sinto-me mal por não lhe contar o que sei. Mas tenho medo… muito medo que ela cometa os mesmos erros que eu. Por isso mantenho-me de lado, até que tenha mesmo de interferir.
Brincamos com os miúdos no parque. Começou a correr uma brisa suave, que me fez sentir novamente uma menina de quinze anos, quando ia para aquele mesmo parque espiar este ou aquele apaixonado. Olhei para a minha amiga. Continuava a ser a mais bonita de nós as duas. Morena, de olhos verdes, sempre fora a mais bonita. Era muito feminina. Eu sempre fora mais Maria-rapaz. Agora os seus olhos andavam sempre cansados. Ainda me lembro quando ela conheceu o Jorge. Foi amor à primeira vista, num encontro de faculdades. Ela viu-o e fixou-o. Naquela noite nenhum dos seus pretendentes teve sorte, porque a Marcela só tinha olhos para o estudante da faculdade de direito. 
 
Daí até se envolverem foi uma questão de dias. Ao fim de um mês estavam perdidamente apaixonados. No final do ano lectivo casaram-se. Depois disso não tiveram logo o primeiro filho porque a Marcela ainda estava a acabar o curso, mas assim que apanhou o canudo na mão, engravidou e teve o António. Os quatro anos de diferença que existem entre nós não se notam. Aliás, não só em aparência, como em maneira de ser, pareço eu ser a mais velha. Agora depois de onze anos de casamento, eu via-a ainda loucamente apaixonada e temia pelo desfecho destas vidas.
 
Fui comprar um gelado para os miúdos e um refresco para nós. Sentamo-nos no banco do jardim a sentir a brisa amena, e a conversar. E assim se passaram duas horitas, até que começou a escurecer e voltamos para as nossas casas.
 
Estou deitada na cama e pela primeira vez em três anos, estou a sorrir sozinha. Os meus sonhos têm-me feito bem.
 
Pergunto-me às vezes o que fazemos neste mundo… se existe Deus, se este nos vê e ouve. Pergunto-me qual o mistério desta nossa passagem por este planeta… porque rimos e choramos com tanta facilidade… porque será que às vezes a nossa felicidade implica a infelicidade dos outros. Ouço a chuva a cair… « tempestade de verão » - penso. Pego neste caderno e na caneta e vou-me sentar no parapeito da janela. As pingas são velozes e gordas. Vejo um senhor já com certa idade a tentar correr para casa. Os coelhos enfiam-se nos jardins das casas. Quase não passam carros. Chove cada vez mais, e de repente um relampago… Cena maravilhosa esta… a luz florescente destaca-se no céu… as pingas grossas continuam a cair… e eu a presenciar este milagre de Deus, que é a Natureza… se tu estivesses aqui comigo, atrever-me-ia a saltar da janela e dançar à chuva… sentir-te nos meus braços, desenfreadamente dançando enquanto a água não pára de cair… Mas tu ja não estás aqui, pois não ? Eu sei que não… Nunca mais vou sentir o teu abraço, nem sequer ver o teu sorriso… E este amor que não acaba… Não há um dia, e sinceramente, acredito que apenas escassos segundos, em que não pense em ti. Eu amo-te e vou amar-te para sempre. Nada nem ninguém ocupará o teu lugar. És meu Ricardo. Para sempre. 

 

Jo

 

 



publicado por Jo às 13:35 | link do post | comentar | favorito

Quinta-feira, 18.09.08

Levantei-me, ainda meia atordoada. A secretária entrou, com olhar piedoso, e com um café na mão.

-           O Sr. Dr. Juíz mandou-me trazer-lhe um café.

-           Para a porra com o café ! – exclamei saindo pela porta fora, o mais rápido quanto as minha pernas bambas me permitiam...

 

Aquele cobarde… estava a falar da minha vida como se soubesse alguma coisa… no fundo ele agia como os outros. Olhavam-me com olhos acusadores, que sussurravam « assassina » e ao mesmo tempo achavam que eu não tinha tido culpa. Que tinha sido culpa de um destino trágico, de algo também que eu nunca deveria ter presenciado.

 

Fui a caminhar para o escritório… mais uma vez teria de enfrentar o olhar zangado e cobarde do meu patrão. Sim, porque este não se atrevia a chamar-me a atenção pelos meus atrasos. Limitava-se a olhar-me com desdém, mas não abria a boca.

Entrei na minha sala. O Hugo seguiu-me.

-          Sofia ! Como estás ?

-          Agora não Hugo.

-          Já bebeste? Logo de manhã? Não me acredito! Ouve, tu tens que procurar ajuda! Não podes continuar assim ! Estás a destruir a tua vida !

-          Hugo, a sério… deixa-me sossegada.

-          Pára de fazer de ti a vítima ! Tu não foste a maior vítima nesta história toda ! Porque é que tens de fazer da tua vida um drama, uma história de infelicidade ? Porque é que tens que ser assim ? Que é feito da menina que eu conheci na faculdade ?

-          Morreu ! Agora sai daqui por favor, quero trabalhar !

Atirei o casaco para cima de uma cadeira. Ele saiu. Sempre tão obediente aquele Hugo…

Ele tinha sido o melhor amigo do meu marido. Conheciam-se desde pequenos, e a afinidade entre eles era tão grande que ambos ingressaram na mesma faculdade e curso. Quando os conheci, era eu caloira do curso de economia, e eles já frequentavam o terceiro ano. O Hugo não é casado. Vive junto com uma ex-colega de turma. Não têm filhos. Não querem, pelo menos por enquanto. Sei o quanto se preocupa comigo, mas simplesmente acho que se preocupa demais.

 

O resto do dia decorreu com normalidade. Quando caminhei para casa, voltei a passar em casa da Marcela, mas não estava ninguém. Vi-os depois, mais adiante, pela janela do restaurante mais antigo da cidade, a jantar em família. Baixei os olhos e segui para casa. Esperava-me mais uma noite solitária, sem família, sem amigos, sem ninguém.

Eu sei que me afastei de toda a gente. Mas a vergonha não me deixa voltar a ser a Sofia que era. Por isso acho melhor afastar-me. E não tenho vontade nem necessidade de estar com os amigos ou família.

 

Já passou mais um dia… às vezes arrependo-me de naquele dia ter ido pelo lado da praia… por ter tomado outro caminho, que não o do costume, pois isso foi fatal para mim. Para mim, e para mais pessoas… mas acima de tudo, para o meu amor, para o meu Ricardo.

 

Deitei-me de barriga para cima, a olhar o tecto tingido de manchas negras de humidade. Apartamentozinho este… Não tem nada em comum com a vivenda em que um dia vivi.

 

Por momentos adormeci e sonhei com pessoas que nunca vi na minha vida. Acordei com uma boa sensação e então resolvi escrever. Hoje não olhei para a garrafa de whisky desde que cheguei a casa. Vou dormir.

 

 Jo

 



publicado por Jo às 17:47 | link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 27.08.08

26/08 "Ik hoop dat Julie en Junior een mooi leven hebben gehad"

 

Dokter Marcel Van Beeck (47) blijft wezenloos achter na het tragische verlies van zijn twee oogappels Julie (4) en Junior (2). Zondagnacht verstikte zijn zwaar depressieve vrouw Chantal (43) hen met een hoofdkussen in hun villa in Kapellen. Daarna probeerde ze zelfmoord te plegen. Het koppel zat verwikkeld in een echtscheiding. “Ze had al meerdere keren gedreigd hen om te brengen”, getuigt de diep geraakte man.

Bem... mais duas crianças assassinadas pela louca da mae, aqui na Bélgica... Em 2007, entre outros, registou-se o macabro assassinato de 5 crianças, que morreram pelas maos da propria mae... Um a um chamou-os ao quarto e degolou-os... Esta semana, estas duas crianças, filhos de uma familia rica, casa com piscina, blablablabla. A mae passa-se da "cornadura" porque o pai quer o divorcio e mata os filhos... depois "tenta" matar-se... o depois "tentar" tentam todos... Nao morre, esta no hospital... e depois vem a teoria do "ela queria matar-se e nao queria deixa-los sos, porque achava que eles sem ela nao iam conseguir viver"... Hellooooo!!!!! e os outros tres filhos que ela tinha de um anterior casamento??? Por favor... Outra noticia... mais um bebe que faleceu com um traumatismo craniano provocado por... palmadinhas amaveis que o pai lhe dava.. Façam-me um favor!!!! Se nao querem filhos nao os tenham, eu também podia ter e ainda nao tenho! Nao da, nao os tenham! Tomem a pilula, usem preservativo, pa, informem-se porque formas para evitar uma gravidez indesejada nao faltam... agora, por amor de Deus, aonde vamos parar, quando todos os dias se ouvem noticias simplesmente aterradoras como esta??

 

Jo

 

 

 


música Free your mind (ta a passar na radio...)

publicado por Jo às 15:41 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Hoje de manha, depois de estacionar o carro no cais de Antuérpia, quando caminhava para o escritorio, vi algo que me tocou... Eu vinha a conversar com a minha colega de trabalho e acho que ela não reparou no que eu reparei... mas sei que o que eu vi me trouxe as lágrimas aos olhos e estas finalmente quase saltaram...

 

Um homem... Vestia um casaco comprido, camel... Todo sujo... a barba era muito grande... mas dava para ver que ainda era um rapaz novo... apanhou uma beata do chao e estava a tentar acende-la... Para muitos, isto pode nao significar nada... para muitos era mais um drogado... para mim era uma pessoa, era um ser, que estava a apanhar uma beata do chao para fumar... era alguém que nao tem nada, que vive perdido nos seus dias, nas suas horas, na sua triste vida... e agora vejo que peco muitas vezes quando lamento a vida que tenho... aquele homem nao tinha nem um amigo que lhe desse um cigarro... este mundo é muito frio... cruel... independentemente da historia daquele homem, do que ele é, foi ou será...

 

 

Quanto a ti puto, adoro-te, mas hoje ponho o ponto final na nossa história, que mal chegou a começar... aquilo que eu quero, de ti nunca terei... beijo

 

Jo


música Better in time (é a que ta a passar na radio)

publicado por Jo às 09:47 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Este sim, o meu blogue mais que pessoal...
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