Entrei. Ela estava sentada na mesa da cozinha a tomar um café…
- Não repares… hoje acho que vou precisar de vinte cafés…
Ri-me do seu comentário e sentei-me.
- Onde estão os putos ?
- Ainda a dormir… esqueces que têm uma semana de férias…
- E o teu meretíssimo esposo ?
- Já foi para o tribunal… Tinha um julgamento mesmo cedo…
Os julgamentos dele já eu conhecia… mas não lhe disse nada… sei que os amigos são sinceros uns com os outros… mas também sei o quanto a Marcela ama aquele cobarde e não queria que ela perdesse o rumo da sua vida, como eu perdi da minha, quando o Ricardo me deixou…
- Bem… mas quê? Vieste de novo de autocarro?
- Agora ando numa fase de proteger o ambiente… deixo o carro em casa…
- Sofia… não é por tu vires de autocarro que vai existir menos monóxido de carbono na atmosfera… sabes disso, não sabes ?
- Acho piada… - encolhi os ombros, tipo, como que vencida… - já pensaste a diminuição de monóxido de carbono que existiria, caso todos nós deixassemos o carrito em casa ? Acho que não tens verdadeira noção…
- O que eu sei é que a cada dia que passa te pareces menos com a contabilista pragmática que eu um dia conheci… Acho que devias voltar às consultas com aquele psicológo… como era o nome dele ?? Dr. Rik… Rik…
- Rikwaan… - magoou-me o seu comentário, mas não o deixei transparecer… - é verdade, tenho que lá voltar… quanto mais não seja para ver aqueles olhinhos verdes tentarem perceber-me…
- Adoras ser o enigma que és…
- Eu não sou nenhum enigma… Que ideia a tua !
- Sofia… está na hora de voltares à Terra… viveres a tua vida da maneira que sempre foste, até o Ricardo partir… afinal a vida continua…
- Olha… sermões logo de manhã ?? Por favor, dá-me descanso ! Estou com uma ressaca!!!
- É também disso que falo !!!! Agora só pensas em beber e sei lá que mais !
- Não me parece que sejas minha mãe ! E sabes que mais ? Vou indo !
- Sofia, mas não iamos juntas ??
- Não! – respondi friamente. – tenho que passar noutro sítio… até logo.
Ela não precisava perguntar onde eu ia… era óbvio…
Caminhei rapidamente… Queria senti-lo perto de mim… não podia abraçá-lo… já há muito tempo que não o podia abraçar… mas ali, ali sim, podia senti-lo… Comecei a correr, como se não aguentasse mais dois minutos de vida, se não chegasse lá rapidamente… As lágrimas escorriam-me pela face… Eram quentes… O rosto dele veio-me à mente… o sorriso… as palavras carinhosas… e mais uma vez dei comigo a perguntar-me « - mas o que é que nos aconteceu ? »
Jo