Quando eu era pequenina, ai com os meus quatro anos, queria ter seis para poder ir para a escola, como iam os meus primos mais velhos… queria crescer rapido para poder brincar no recreio com os outros meninos… Cresci…
O tempo passava lentamente, mas passava. Nao tardou muito até eu entrar para a escola. Entao la, ja a brincar com outros meninos e a aprender a ler, comecei a desejar ardentemente crescer rapido para ir para o « ciclo ». Queria mudar para uma escola maior, aprender ingles, apanhar o autocarro como gente grande, ter troquinhos para comprar a senha de almoço, para comprar um bolo ou um sumo… afinal, quando mudasse para o « ciclo » ia tornar-me crescida, e responsavel.
Os anos passaram e finalmente fui para a nova escola, com colegas que vinham da primaria, mas também novos colegas. Ja nao tinha a minha professora… em vez dela, tinha agora mais do que uma mao cheia de professores, mais que um TPC, mais do que dois ou tres testes… Acho que entao nao me apercebi que juntamente com a imagem de criança/adulta que eu queria passar para as manas e primos mais novos, estava a começar a integrar-me lentamente (um processo que duraria anos) num mundo e sociedade que um dia me roubaria a inocencia para sempre.
Com onze anos, eu queria ter doze para poder sentar-me no lugar da frente, ao lado do meu pai, quando a minha mae nao ia… as vezes o pai ainda abria a excepçao, mas era tao raro, que eu pensava – « Deixa-me fazer doze anos e nao tens desculpa para me obrigar a ir atras !! »
Doze anos feitos . Ja estava a ficar crescida. Ja podia acompanhar o pai a frente. Ja me sentia uma mulherzinha, e ao mesmo tempo sabia-me uma criança. Com doze anos, devorava livros e sonhava. Sonhava que um dia cresceria e conheceria o mundo. Sairia de Portugal, viveria tudo aquilo que queria. Com doze anos ja sonhava alto.
Aos catorze queria ter dezasseis. Idade para sair mais. Idade para namoriscar. Idade para conhecer a vida. Idade para estar ja no « secundario ». E aos dezasseis queria ter dezoito. Dezoito para entrar para a faculdade, para tirar a carta de conduçao, para ser dona de mim…(tonta !)
Aos dezoito entrei para a faculdade, mas nao tirei a carta. Comecei a trabalhar, fiquei a viver sozinha, e ai sim, deu-se o verdadeiro salto…
Aos dezoito ja nao pensava que queria crescer para ter esta ou aquela regalia, mas sim porque seria sinal que o tempo voou e tudo o que eu estava a viver ja nao existiria…
Aos vinte ja começava a querer voltar aos dezoito…
Hoje, nao deixo de ter os meus projectos, os meus sonhos, os meus objectivos. Nao deixo de pensar no futuro, mas nao sem espreitar o passado e desejar ser criança mais uma vez… nao deixo de comparar os veroes de criança, que duravam eternidades, com os veroes de adulta, que passam a voar… nao deixo de comparar os natais cheios de surpresa, com os actuais natais, muito mais comercialmente vistos por mim… Nao deixo de comparar a uniao entre os primos que um dia houve, quando juntos brincavamos aos herois, e que hoje ha, cada um para o seu lado, com respectivas familias e muitos ja com filhos…
Ha algo que nao mudou… esta mulher, miuda como muitos me chamam… corpo de adulta, mente racional, mas coraçao de criança, sonho de criança em mim… e a crença (ainda que absurda e infantil), ou melhor, o nao acreditar que um dia tudo acabara… a crença de que o papa, a mama e as manas vao estar sempre comigo… e no entanto, ve-los envelhecer, e constatar que os problemas de saude afinal vao aparecendo, e aperceber –me que o que tanto desejei, o crescer, nao me deu nada do que quis, ou melhor, por vezes deu, mas foi passageiro…
Eu gostaria de ser pequenina outra vez… Brincar com elas as escondidas, comer gelados a toda a hora sem pensar numa unica caloria. Correr entre os montes para apanhar pinhas e saber que quando chegasse a casa ia levar um sermao por voltar toda suja.
Eu gostaria de nunca ter desejado tao ardentemente ser crescida…