Sexta-feira, 19 de Setembro de 2008
5 de Novembro de 2005
Tenho andado muito ocupada. Entre trabalho, bebida e falta de vontade de escrever, tenho mantido os meus escritos de lado. Comecei um curso de psicologia. Nada de especial na verdade. Mas queria manter a cabeça mais ocupada.
Estou mesmo a tentar deixar a bebida. Mas confesso que pensei que seria mais fácil. Sempre disse que deixaria a bebida quando quisesse… mas agora sei que não é bem assim. Quero parar e não consigo.
Hoje vou directa para o trabalho. O Hugo está doente. Um outro colega despediu-se, e hoje começa um novo. Vamos ver como corre.
Não gostei dele. À primeira vista pareceu-me muito vaidoso, orgulhoso. Tem trinta anos e veste Armani. Tem os dentes brancos e muito certos. Os olhos escuros são grandes e brilhantes. O cabelo castanho claro tem um tom camarelado em contraste com a pele morena. Parece que faz praia o ano todo. Faz covinhas quando ri. Tem uma aparência estranhamente tentadora… O género de homem que só nos faz pensar : « se me envolvo, tenho sarilhos ».
É muito educado. Faz as devidas pausas ao falar. Sabe falar. Quando me olha, observa-me. Estuda-me. Quer saber mais. Ou entao sabe mas não quer dizer.
Fui eu que lhe fiz as honras da casa. Pu-lo a par do trabalho e expliquei-lhe como funcionava o trabalho entre nós. Ele ouviu e aceitou tudo com uma humildade que me surpreendeu.
Depois de um extenuante dia de trabalho passei por casa da Marcela. Desta vez toquei à campaínha. Ela veio abrir, com a menina ao colo.
- Sofia ! querida ! Entra !
- É bom ver-te animada. – sorri, disfarçando a preocupação.
- Oh! Está tudo bem ! Porque não estaria animada ? Tenho que te mostrar o que o Jorge me ofereceu ! E eu nem faço anos !
Confesso que fiquei admirada, mas gostei de saber que ele estava a dar mais atenção à esposa.
Puxou-me para o quarto.
- Ele ainda não sabe que eu já vi a prenda – sussurrou. Abriu uma caixinha vermelha e de lá tirou uma pulseira de diamantes. Líndissima. – Hoje de manhã fui à mala dele procurar a chave do jeep, e quando vi isto, com este postal, só me apetecia chorar de felicidade ! – mostrou-me o postal que dizia : « para a mulher que ilumina os meus dias e me faz sentir o homem mais louco do Mundo ! ».
Não era para ela… o presente não era para ela… mas eu não lhe podia contar. Não podia destruir a momentânea felicidade que se tinha apoderado dela.
- É concerteza muito bonita, amiga. Muito mesmo !
- Também achei! Mas ele bem que me podia perguntar se eu gostei ou não ! Já lhe liguei mas ele não podia atender, até agora não me ligou de volta. Mas não faz mal, porque depois de um presente assim não tenho direito de o perturbar !
« Meu deus, como estás cega… » - pensei eu para mim.
- Vamos até ao parque ? – perguntei.
- Sim, vamos, vou chamar os miúdos.
O sol ainda brilhava. Enquanto passeavamos, conversavamos sobre as nossas vidas. Sobre quando ela conheceu o marido dela e eu o meu. Sobre as nossas travessuras em crianças, sobre a nossa amizade, sobre o quanto nos amavamos uma à outra. Eu sinto-me mal por não lhe contar o que sei. Mas tenho medo… muito medo que ela cometa os mesmos erros que eu. Por isso mantenho-me de lado, até que tenha mesmo de interferir.
Brincamos com os miúdos no parque. Começou a correr uma brisa suave, que me fez sentir novamente uma menina de quinze anos, quando ia para aquele mesmo parque espiar este ou aquele apaixonado. Olhei para a minha amiga. Continuava a ser a mais bonita de nós as duas. Morena, de olhos verdes, sempre fora a mais bonita. Era muito feminina. Eu sempre fora mais Maria-rapaz. Agora os seus olhos andavam sempre cansados. Ainda me lembro quando ela conheceu o Jorge. Foi amor à primeira vista, num encontro de faculdades. Ela viu-o e fixou-o. Naquela noite nenhum dos seus pretendentes teve sorte, porque a Marcela só tinha olhos para o estudante da faculdade de direito.
Daí até se envolverem foi uma questão de dias. Ao fim de um mês estavam perdidamente apaixonados. No final do ano lectivo casaram-se. Depois disso não tiveram logo o primeiro filho porque a Marcela ainda estava a acabar o curso, mas assim que apanhou o canudo na mão, engravidou e teve o António. Os quatro anos de diferença que existem entre nós não se notam. Aliás, não só em aparência, como em maneira de ser, pareço eu ser a mais velha. Agora depois de onze anos de casamento, eu via-a ainda loucamente apaixonada e temia pelo desfecho destas vidas.
Fui comprar um gelado para os miúdos e um refresco para nós. Sentamo-nos no banco do jardim a sentir a brisa amena, e a conversar. E assim se passaram duas horitas, até que começou a escurecer e voltamos para as nossas casas.
Estou deitada na cama e pela primeira vez em três anos, estou a sorrir sozinha. Os meus sonhos têm-me feito bem.
Pergunto-me às vezes o que fazemos neste mundo… se existe Deus, se este nos vê e ouve. Pergunto-me qual o mistério desta nossa passagem por este planeta… porque rimos e choramos com tanta facilidade… porque será que às vezes a nossa felicidade implica a infelicidade dos outros. Ouço a chuva a cair… « tempestade de verão » - penso. Pego neste caderno e na caneta e vou-me sentar no parapeito da janela. As pingas são velozes e gordas. Vejo um senhor já com certa idade a tentar correr para casa. Os coelhos enfiam-se nos jardins das casas. Quase não passam carros. Chove cada vez mais, e de repente um relampago… Cena maravilhosa esta… a luz florescente destaca-se no céu… as pingas grossas continuam a cair… e eu a presenciar este milagre de Deus, que é a Natureza… se tu estivesses aqui comigo, atrever-me-ia a saltar da janela e dançar à chuva… sentir-te nos meus braços, desenfreadamente dançando enquanto a água não pára de cair… Mas tu ja não estás aqui, pois não ? Eu sei que não… Nunca mais vou sentir o teu abraço, nem sequer ver o teu sorriso… E este amor que não acaba… Não há um dia, e sinceramente, acredito que apenas escassos segundos, em que não pense em ti. Eu amo-te e vou amar-te para sempre. Nada nem ninguém ocupará o teu lugar. És meu Ricardo. Para sempre.
Jo
Quinta-feira, 18 de Setembro de 2008
Levantei-me, ainda meia atordoada. A secretária entrou, com olhar piedoso, e com um café na mão.
- O Sr. Dr. Juíz mandou-me trazer-lhe um café.
- Para a porra com o café ! – exclamei saindo pela porta fora, o mais rápido quanto as minha pernas bambas me permitiam...
Aquele cobarde… estava a falar da minha vida como se soubesse alguma coisa… no fundo ele agia como os outros. Olhavam-me com olhos acusadores, que sussurravam « assassina » e ao mesmo tempo achavam que eu não tinha tido culpa. Que tinha sido culpa de um destino trágico, de algo também que eu nunca deveria ter presenciado.
Fui a caminhar para o escritório… mais uma vez teria de enfrentar o olhar zangado e cobarde do meu patrão. Sim, porque este não se atrevia a chamar-me a atenção pelos meus atrasos. Limitava-se a olhar-me com desdém, mas não abria a boca.
Entrei na minha sala. O Hugo seguiu-me.
- Sofia ! Como estás ?
- Agora não Hugo.
- Já bebeste? Logo de manhã? Não me acredito! Ouve, tu tens que procurar ajuda! Não podes continuar assim ! Estás a destruir a tua vida !
- Hugo, a sério… deixa-me sossegada.
- Pára de fazer de ti a vítima ! Tu não foste a maior vítima nesta história toda ! Porque é que tens de fazer da tua vida um drama, uma história de infelicidade ? Porque é que tens que ser assim ? Que é feito da menina que eu conheci na faculdade ?
- Morreu ! Agora sai daqui por favor, quero trabalhar !
Atirei o casaco para cima de uma cadeira. Ele saiu. Sempre tão obediente aquele Hugo…
Ele tinha sido o melhor amigo do meu marido. Conheciam-se desde pequenos, e a afinidade entre eles era tão grande que ambos ingressaram na mesma faculdade e curso. Quando os conheci, era eu caloira do curso de economia, e eles já frequentavam o terceiro ano. O Hugo não é casado. Vive junto com uma ex-colega de turma. Não têm filhos. Não querem, pelo menos por enquanto. Sei o quanto se preocupa comigo, mas simplesmente acho que se preocupa demais.
O resto do dia decorreu com normalidade. Quando caminhei para casa, voltei a passar em casa da Marcela, mas não estava ninguém. Vi-os depois, mais adiante, pela janela do restaurante mais antigo da cidade, a jantar em família. Baixei os olhos e segui para casa. Esperava-me mais uma noite solitária, sem família, sem amigos, sem ninguém.
Eu sei que me afastei de toda a gente. Mas a vergonha não me deixa voltar a ser a Sofia que era. Por isso acho melhor afastar-me. E não tenho vontade nem necessidade de estar com os amigos ou família.
Já passou mais um dia… às vezes arrependo-me de naquele dia ter ido pelo lado da praia… por ter tomado outro caminho, que não o do costume, pois isso foi fatal para mim. Para mim, e para mais pessoas… mas acima de tudo, para o meu amor, para o meu Ricardo.
Deitei-me de barriga para cima, a olhar o tecto tingido de manchas negras de humidade. Apartamentozinho este… Não tem nada em comum com a vivenda em que um dia vivi.
Por momentos adormeci e sonhei com pessoas que nunca vi na minha vida. Acordei com uma boa sensação e então resolvi escrever. Hoje não olhei para a garrafa de whisky desde que cheguei a casa. Vou dormir.
Jo
Terça-feira, 16 de Setembro de 2008
Puxou-me para outra sala com vergonha do que eu havia feito e com medo do que eu poderia fazer.
- Estás doida ?
- Doida ? Eu ? Seu cobarde de merda !
- Sofia, estás a passar os limites !
- Axas que me importo com isso ? Olha bem para mim Jorge ! Tu vais desaparecer da vida da Marcela, se não queres perder tudo o que tens !
Ele olhava-me incrédulo.
- Sua doida ! Quem te julgas ?
- Se não te afastares deles, eu juro que te levo a tribunal acusando-te de maus tratos, e toda a gente ficará a saber que o senhor dorme com prostitutas !
Olhou-me desdenhoso. Quase a rir-se na minha cara.
- Tu axas mesmo que alguém vai acreditar no que tu possas dizer contra mim ?
- Sim, axo, porque eu ponho todos os que sabem a depor contra ti !
- Sofia, sua maluca ! Acorda para a vida ! Axas que alguém ia contrariar a palavra de um magistrado pela palavra de uma bebeda ? – o seu tom de voz aumentou. – axas que alguém no seu perfeito juízo vai ouvir uma maluca que destruiu o seu próprio lar ? Uma assassina ?
Aquela palavra entoou nos meus ouvidos. Senti-me desfalecer. Tentei falar mas só gaguejava.
- Tu... tu... tu sabes... tu sabes... que não foi bem assim...
- Eu não sei nada... Tiveste sorte porque eu julguei o teu caso e tive pena da tua pessoa... porque sempre foste uma fraca, Sofia.
Atordoada, olhei para a garrafa de Whisky que estava pousada na mesa.
Ele viu.
- Vai Sofia, bebe ! Bebe, é só isso que sabes fazer ! Bebe !
A tremer, vi-me a abrir a garrafa e a dar três golos na garrafa.
- Sua triste, bebeda... quem és tu para te meteres na minha vida ?
Eu estava caída no chão. Estava tudo a andar à roda... Não, não foi da bebida... estava bebeda sim, mas de mágoa...
O seu olhar veio-me à mente... e depois recordei aquele fatídico dia, em que vi o meu marido, o homem que eu pensava ser o amor da minha vida, de mão dada, aos beijos, com outra mulher em plena calçada, na praia.
Jo
Quinta-feira, 11 de Setembro de 2008
Aqui esta mais um bocadinho :) espero que gostem :)
16 de Outubro de 2005
Já passaram quatro dias desde a última bebedeira... não que já não beba há quatro dias, mas não tenho estado inconsciente como estive há uns dias atrás... Podem não acreditar... e aliás nem preciso que acreditem... mas beber faz-me sentir mais segura... consigo pensar melhor... pelo menos nos primeiros momentos...
Porque depois começa tudo a andar à roda... e quando acordo, doi-me tudo... mas tudo isso passa, quando volto a beber...
Hoje vou mais cedo, mais uma vez, para passar em casa da Marcela... ontem à noite ligou-me a chorar... Hoje não vai trabalhar...Sinceramente, não compreendo os homens... ia dizer « certos homens », mas a verdade é que não compreendo mesmo nenhum... Ela é uma boa mãe e esposa... bonita, inteligente... e aquele homem, que de inteligente tem muito pouco, dorme com outras e destrói o bom ambiente familiar...
Sim, fui mais cedo... vesti um dos meus fatos Versace, que me sobrou do meu casamento, da minha vida tão distante... Hoje estiquei o cabelo, e maquilhei-me... e fui até casa da minha amiga...
Quando lá cheguei, abri a porta com a minha chave, entrei e encontrei-a deitada no sofá, coberta dos pés à cabeça. Estava a chorar. A Cátia também chorava, e veio logo abraçar as minhas pernas, com os seus bracitos pequeninos... O João estava sentadinho no chão, todo encolhido... Do António, o mais velhito, não havia sinal.
Tentei falar com ela, mas não adiantou. Estava fechada só para ela. Virei-me para os pequenos.
- Vamos tomar um banhinho ?
Cátia acenou afirmativamente com a cabeça, mas muito timidamente. O João não se mexeu.
Peguei na pequenita ao colo e dei a mão ao irmãozinho. Levei-os para junto da banheira e dei banho a um e a outro. Estavam cansados. Notava-se que também não tinham dormido.
Vesti-lhes um pijaminha limpo, e com os dois ao colo fui até à cozinha.
- Que queres tomar ?
- Chocapic !!!
- E tu, João ?
- Leite com torradas. – respondeu-me timidamente.
Preparei o que me pediram, e depois de comerem, deitei-os na caminha. Procurei o António, que estava metido na cave a brincar com a farda de militar do pai.
- Olá querido... então que fazes ?
- Tia... posso perguntar-te uma coisa ? – perguntou-me com aqueles olhos enormes e luminosos.
- Claro amor, tudo o que quiseres.
- Tia... o meu pai está a fazer à minha mãe o que o tio fez a ti ?
A pergunta gelou-me o corpo... Não sabia que ele se tinha apercebido de tudo... o meu coração encheu-se de tristeza... Na altura ele tinha apenas sete anos. Na verdade, cada vez mais percebo que subestimamos muito as crianças...
- Querido, o mundo dos adultos é muito complicado. Quando tu cresceres vais entender tudo. Mas para já não podes querer perceber certas coisas, que não são para a tua idade.
- Mas eu já tenho dez anos !
Sorri e abracei-o. Pu-lo em cima das minhas costas e levei-o para a cozinha. Depois de lhe dar o pequeno-almoço pus a dar na televisão o seu desenho animado favorito, o « Dartacão ».
Voltei para a Marcela. Continuava coberta. Descobri-lhe a cabeça. Tinha os olhos inchados. As lágrimas continuavam a cair.
- Amiga... – abracei-a.
- Ele tem trabalhado muito... eu entendo... mas eu só lhe estava a pedir atenção...
Percebi então que ela não tinha descoberto nada... puxei um pouco mais o cobertor e vi as marcas roxas no pescoço. Uma raiva apoderou-se de mim e levantei-me.
- Eu mato-o ! –exclamei.
- Não ! não, por favor, não cometas loucuras ! Ele não queria fazer isto ! Por favor Sofia ! Não te metas !
- Mas, Marcela ! Tu não podes aceitar isto ! – agarrei-lhe no rosto com as duas mãos. – não podes aceitar que ele te faça isto ! Que te bata, que te trate mal ! Tens que por um fim a isto !!
- Um fim ? Um fim como tu puseste ? Que te vale o processo que te vai pesar para sempre nas costas ?
Mais uma vez magoou-me. Virei-lhe as costas, revoltada. Liguei para a mãe dela. Alguém tinha que tomar conta dos miúdos.
Saí, com os nervos à flor da pele, capaz de espancá-lo até não poder mais. Apanhei um táxi e saí mesmo à porta do tribunal. Entrei no seu escritório, e sem dar tempo à secretária de me avisar, invadi o seu local de trabalho. Estava em reunião com os jurados e deu um salto com o estrondo que a porta fez ao bater na parede, qual foi a força com que a abri.
- Sofia...
- Quero falar contigo !
- Sofia, estou em reunião ! Espera-me lá fora.
- Agora ! Agora mesmo Jorge ! – ele e os outros olhavam-me incrédulos.
- Sofia, estou a meio de uma reunião, e não...
Interrompi-o :
- Agora Jorge ! E tu sabes que é o melhor para ti !
Jo
Quarta-feira, 10 de Setembro de 2008
Cheguei à calçada da praia… e tudo me voltou à mente… aquela cena horrível, que delineou os contornos da minha vida… Doeu… Tudo doeu… a descoberta, a desilusão… mas o que mais doeu foi perdê-lo… isso acabou comigo… eu sei…
Quanto tempo fiquei ali, não sei… não me perguntem… e não se perguntem também, porque isso não interessa… afinal, o tempo tem só e apenas o significado que lhe queremos atribuir… e eu, neste momento, não quero atribuir-lhe significado nenhum… Quero sim, ficar com esta nova pessoa que me tornei, azeda, magoada, ferida pelas facadas da vida…
Quando cheguei ao escritório já passava da hora de almoço. O meu chefe olhou-me com uma cara furiosa, mas não foi capaz de me chamar a atenção. Isso é uma das coisas que mais me chateia… uma das coisas que mais me revolta.. não preciso, não quero que sintam pena de mim ! Eu já sinto pena de mim ! Será que não é suficiente ? Quando me olho ao espelho, sinto tristeza pelo rumo da minha vida !!! Será que vocês não podem evitar ter pena de mim? Tudo isso vai-me azedando dia após dia…
Trabalhei até mais tarde… Quando passei por casa da Marcela, não vi o carro do marido dela… Quase todas as luzes estavam apagadas, com excepção da do seu quarto… Não tive coragem de bater à porta… Preferi deixá-la chorar… Sim… porque eu sei que ela chora, todas as noites enquanto espera que ele venha para casa…
Decidi não apanhar autocarro nenhum… caminhar meia horita até casa só me faz bem… O meu organismo está a envelhecer, e o meu metabolismo já não trabalha tão rapidamente, logo tenho mesmo de começar a fazer exercício para não engordar demais…
Enquanto caminhava, olhava para o céu estrelado, sem vestigens de nuvens, sem ponta de sinal de que o dia seguinte não seria solarengo e morno. Vi um mendigo, que dormia no banco do jardim... coberto com jornais, com uma taça ao seu lado... apeteceu-me chorar... pensei no que teria sido aquele homem. Será que fora sempre um mendigo ? Será que um dia havia tido uma família ? Teria sido orfão ?
Meti a mão no bolso... não tinha muito dinheiro, mas o que tinha deixei na tacinha... Estava a agir contra os meus principios... sempre havia dito que não dava esmolas, porque achava que todos tinham bom corpo para trabalhar... mas afinal, que sabemos nós da vida ? Eu própria fui um dia uma grande mulher, e agora sou uma desnorteada, bebeda, que vive o dia a dia da maneira mais fácil que encontra...
Ele não acordou... e ainda bem, porque eu no fundo desconhecia o seu mundo, e como a qualquer pessoa, o desconhecido amedrontava-me...
Cheguei a casa e atirei-me para a cama... na mesinha de cabeceira, ainda estava a nossa foto... ele com os seus olhos azuis muito vivos... o seu cabelo escuro... o seu sorriso inconfundível... ao lado da foto, uma garrafa de whisky...
Pego no meu caderno e decido escrever... descrever o meu dia... fazer o meu diário... talvez isso me afaste da bebida...
Enquanto escrevo, estou a olhar para a garrafa... esta olha-me também... não dá... vou parar de escrever, vou buscar um copo com gelo, e beber um « drink »... ou dois ou três...
Jo
Terça-feira, 9 de Setembro de 2008
Entrei. Ela estava sentada na mesa da cozinha a tomar um café…
- Não repares… hoje acho que vou precisar de vinte cafés…
Ri-me do seu comentário e sentei-me.
- Onde estão os putos ?
- Ainda a dormir… esqueces que têm uma semana de férias…
- E o teu meretíssimo esposo ?
- Já foi para o tribunal… Tinha um julgamento mesmo cedo…
Os julgamentos dele já eu conhecia… mas não lhe disse nada… sei que os amigos são sinceros uns com os outros… mas também sei o quanto a Marcela ama aquele cobarde e não queria que ela perdesse o rumo da sua vida, como eu perdi da minha, quando o Ricardo me deixou…
- Bem… mas quê? Vieste de novo de autocarro?
- Agora ando numa fase de proteger o ambiente… deixo o carro em casa…
- Sofia… não é por tu vires de autocarro que vai existir menos monóxido de carbono na atmosfera… sabes disso, não sabes ?
- Acho piada… - encolhi os ombros, tipo, como que vencida… - já pensaste a diminuição de monóxido de carbono que existiria, caso todos nós deixassemos o carrito em casa ? Acho que não tens verdadeira noção…
- O que eu sei é que a cada dia que passa te pareces menos com a contabilista pragmática que eu um dia conheci… Acho que devias voltar às consultas com aquele psicológo… como era o nome dele ?? Dr. Rik… Rik…
- Rikwaan… - magoou-me o seu comentário, mas não o deixei transparecer… - é verdade, tenho que lá voltar… quanto mais não seja para ver aqueles olhinhos verdes tentarem perceber-me…
- Adoras ser o enigma que és…
- Eu não sou nenhum enigma… Que ideia a tua !
- Sofia… está na hora de voltares à Terra… viveres a tua vida da maneira que sempre foste, até o Ricardo partir… afinal a vida continua…
- Olha… sermões logo de manhã ?? Por favor, dá-me descanso ! Estou com uma ressaca!!!
- É também disso que falo !!!! Agora só pensas em beber e sei lá que mais !
- Não me parece que sejas minha mãe ! E sabes que mais ? Vou indo !
- Sofia, mas não iamos juntas ??
- Não! – respondi friamente. – tenho que passar noutro sítio… até logo.
Ela não precisava perguntar onde eu ia… era óbvio…
Caminhei rapidamente… Queria senti-lo perto de mim… não podia abraçá-lo… já há muito tempo que não o podia abraçar… mas ali, ali sim, podia senti-lo… Comecei a correr, como se não aguentasse mais dois minutos de vida, se não chegasse lá rapidamente… As lágrimas escorriam-me pela face… Eram quentes… O rosto dele veio-me à mente… o sorriso… as palavras carinhosas… e mais uma vez dei comigo a perguntar-me « - mas o que é que nos aconteceu ? »
Jo
Segunda-feira, 8 de Setembro de 2008
Bem... a todos que visitarem este blogue... Welcome!!! :D
Resolvi partilhar os meus escritos... são uma forma de eu levar a imaginação um bocado mais além... imaginação essa que se deve talvez ao facto de eu ser uma geminiana:)
Todos os dias vou postar um bocadinho daquilo que tenho vindo a escrever... espero que gostem e se assim for deem-me opinioes... Quanto aos acentos ortograficos, compreendam que o meu teclado é holandes...
Beijos e abraços e obrigado pela visita :)
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12 de Outubro de 2005
Não me perguntem porque choro, porque grito, porque sufoco, porque sinto um nó na garganta… Não exijam de mim o que não posso dar porque afinal, chega !!! Sim, tornei-me um ser rebelde que pouco ou nada sabe da vida, mas que sabe que as pessoas conseguem ser crueis, insensiveis, frias, egoístas…
O meu nome é Sofia… tenho quase 30 anos mas sinto-me como se ainda não tivesse passado dos treze, e ao mesmo tempo, como se tivesse quase cinquenta… resumindo e concluindo, não sinto a minha idade… os meus poros não respiram trinta anos, nem nada semelhante. Respiram sim revolta, tristeza, mágoa ! Sim, muita mágoa, capaz de destruir o mais belo dos sentimentos.
Hoje acordei com a sensação de que não me resta muito tempo… Estou a ficar doida, segundo os meus amigos.. A mim apetece-me é beber, curtir, e quem sabe fumar umas ganzas para esquecer a vida, o mundo e acima de tudo as pessoas…
Dizem que sou amada por muitos e odiada por alguns… Sou o tipo de pessoa que cativa até as crianças… Porquê ? Não me perguntem…
Enquanto escrevo este diário, tenho que ter cuidado para não escrever com abreviaturas… sim, claro que já fui contaminada pela escrita rápida e curta da nossa juventude, não fosse eu também adepta de foruns, e chats. Sou uma das assassinas à nossa língua… uma daquelas que um dia se calhar já não vai saber se se escreve « kero » ou « quero ».
Continuando…
Levantei-me e tomei um banho de água fria… Tinha que curar a ressaca do dia anterior… Sim, ainda me embebedo para esquecê-lo, como se adiantasse de alguma coisa… Acabo a noite a chorar e a lamentar tudo e mais alguma coisa… mas o meu cérebro, neste momento, não dá para mais… Quero beber, até esquecer…
O duche frio acordou-me… Não sequei o cabelo… não me apeteceu… tomei um café , fumei um cigarro e corri para o autocarro… O trabalho esperava-me e quanto a isso não havia nada a fazer… se queria ter dinheiro para pagar a prestação, tinha mesmo que trabalhar. Antes de ir para o escritório,onde trabalho como contabilista, tinha que passar em casa de uma amiga. Ela, sim, tinha a vida que eu queria… casa fixa, filhos, marido… eu às vezes conseguia ser invejosa… e cobiçar a sua vida… mas no fim acabava por entender que eu não tinha a vida que merecia, mas ela sim… tudo o que tem, merece…ou quase tudo…
Jo
Quinta-feira, 4 de Setembro de 2008
Socorro mesmo!!!! Estou prestes a mandar o meu colega Bart "Simpson" pelas escadas... a sério ... já nao aguento!!!! Um dia destes nao vai haver paciencia que o salve e vai voar daqui do terceiro andar e parar so na rua!!!!! Xiça que o homem faz-me a vida negra! Ja nao o consigo ouvir!!!!
Eu ja disse e volto a dizer... um dia destes vou parar a cadeia :p
Foi um desabafo, antes que me desse mesmo a neura e lhe mandasse com o telefone a cabeça...
Jo
música sei la bem o titulo...
sinto-me stressada!!!!!!!!!
Quarta-feira, 3 de Setembro de 2008
Bem... este clima... nao é que ja ando de gola alta?? e olhem que nao tenho calor...
Amanha encontro de empresas de exportaçao/importaçao num iate aqui em Antuérpia... a volta de 1000 pessoas... ai como detesto essa confusao toda...
Hoje estou cheia de sono, e tenho que fazer uma oferta a Siemens... e é que os nossos queridos clientes nao sao faceis... nao mesmo... alemaes...torroes como tudo... :p
Ontem ia comprar um novo portatil (o meu deu o berro). Fui a loja e quem me atendeu foi um belga que ainda percebe menos de computadores do que eu... Peço-lhe para ver um portatil, e ponho-me a ver as caracteristicas (estava escrito num papel...). Depois vejo outro portatil e pergunto-lhe quais as caracteristicas, mas ele nao sabe... Vira o portatil ao contrario e vira-me o codigo de barras para eu ler "as tais caracteristicas"... resumindo e concluindo, fiquei sem saber nada sobre aquele portatil...
Por fim decidi-me pelo primeiro... Digo-lhe que vou levar aquele. Ele sorri e fecha a vitrine... Eu, muito rapidamente: "- Desculpe, mas onde é que vai com esse portatil?" "- nao vai levar?" "- sim vou! mas nao tem no armazem outro?" ele olha para mim com cara de quem "estrangeira do carago..." e responde " - nao sei...nao sei se tem sinceramente..." resposta: "- Nao sabe? nao sabe vai ver! nao é?"....
Podem dizer o que disserem, mas em termos de atendimento ao cliente, Portugal e Bélgica tem duas diferenças... Em Portugal, a maior parte dos funcionários sao antipaticos, mas sabem o que fazem... Aqui, grande parte dos funcionarios tem sempre um sorriso aberto, como se tivesse um fio que lhes ata os labios as orelhas, mas nao "manjam" nada de nada...
e é assim ;)
Jo
música rihanna ... o titulo? sei la bem...