Segunda-feira, 7 de Setembro de 2009
Nao sei bem onde tudo isto nos vai levar, mas sei que um dia, quando tiver um filho, no que depender de mim, farei o miudo entender que as pessoas tem que ser respeitadas, seja qual for a cor ou credo...
Eu também nao morro de amores por muçulmanos, mas respeito, porque muitos deles sao boas pessoas... como existem portugueses bons e maus, ou belgas, ou chineses, ou africanos... epa. Detesto radicalismos e a noticia que acabei de ler, ja nem me revoltou as tripas como o costume, mas sim, entristeceu-me... e fez-me pensar mais uma vez que este mundo esta podre, e que é uma fachada. Que grande culpa é de muitos pais que incutem aos filhos o odio, pelo preto, pelo amarelo, pelo branco, pelo catolico, pelo judeu ou pelo muçulmano...
Em Londres, um grupo de miudos de 12 anos (sim! 12 anos!) atacou um senhor muçulmano que saia da mesquita com a sua neta de 3 anos. Espancaram-no até este ficar em coma. Este homem de 67 anos, esta agora em coma, e a familia foi despedir-se ontem, visto que vai morrer a qualquer momento...
Sera assim tao dificil aceitar a diferença, quando a mesma nao nos atinge? Quando mesmo as pessoas sendo diferentes nao procuram fazer mal, tentam levar a sua vida?
é triste. é revoltante...
Na minha rua vivem muitos marroquinos... Grande parte dos mais velhos, e até dos jovens adultos, sao simpaticos, amigaveis até. No entanto os miudos, de uma casa a duas portas da minha, sao o diabo em figura de gente. Aqui ha uns dias, um dos miudos que nao tera mais que tres anos cuspiu perto de mim e da minha irma e chamou-nos "lixo". Se fosse mais velhinho levava logo uma solha no cu. Mas tudo isto para dizer, que nao é so entre os catolicos que nao se aceita a diferença. Como disse antes, em todo o lado encontramos pessoas boas e mas. Mas preocupante é mesmo que atitudes destas venham de crianças...
Diz-se que vivemos num mundo mais tolerante, mais evoluido... mas a mim o que me parece, é que lentamente o extremismo em cada raça e religiao, vai evoluindo, silenciosamente, para que aqueles que aceitam as diferenças nao se apercebam de imediato... mas tolerante? Tolerancia é algo que vejo desaparecer a cada dia que passa...
Médio Oriente, ano de 2099.
Do alto da torre de vigia, o soldado de turno observava o campo de refugiados, enquanto colocava na boca mais uma pastilha para entreter a paciência.
Àquela distância, a multidão de pequenos pontos movia-se desordenamente, em todas as direcções, em pequenos ou grandes grupos, levantando espirais de pó que o vento dispersava rápidamente.
Consultou o relógio de pulso, pela milésima vez em poucos minutos – ainda faltava quase uma hora para ser rendido de turno – e encetou nova ronda, em direcção à torre número dois, no extremo norte do campo.
Tarefa monótona, aquela.
Todos os dias, duas horas por dia, cinco dias por semana, cinquenta semanas por ano... há quanto tempo fazia ele aquela patrulha ? Dois anos, dois anos e meio ?
Ajeitou melhor a arma a tiracolo, voltou a colocar o capacete azul ( uso obrigatório, mesmo que o termómetro, naquele deserto, acusasse quarenta e tantos graus ) e rumou vagarosamente pelo passadiço de betão, que contornava toda a zona sul do campo, em direcção à torre número dois.
O campo de Al Arudah localizava-se na margem oriental do Mar Morto, numa zona que outrora fora a Jordânia. Mais conhecido por campo nº 27, albergava quase dez mil refugiados, todos eles de ascendência judaica, que para ali haviam sido deslocados após os terríveis conflitos da década de setenta – ele ainda não era nascido nessa altura – os conflitos que haviam colocado um fim na existência de algumas nações, como Israel, a Palestina, a Jordânia ou o Líbano.
O seu pai, militar de carreira das tropas internacionais, participara nessa guerra e levara para casa como recordação uma mão mutilada e muitos estilhaçoes metálicos enterrados na carne, que o acompanhariam para sempre.
Trinta anos depois, ali estava ele, a vigiar um dos muitos campos de refugiados ( quantos eram ao certo ? ) da zona ONU 4, a zona dos sem pátria que as Naçoes Unidas administravam. Como o pai lhe dissera um dia “ o que as Naçoes Unidas criaram, também desfizeram “ e por isso mesmo ali estava ele, servindo de espectador a uma realidade de despojos de guerra, que se prolongava há mais de um século.
Mas apesar de já não existirem os países, ainda existiam as pessoas... e por isso fora necessário criar aquele conjunto imenso de campos de refugiados, onde a vida passava devagar, sem sentido nem propósito.
Acenou a outro soldado, quando se cruzaram em sentidos contrários, sobre o passadiço.
- Konnichiwa – saudou o outro soldado.
Ele respondeu-lhe com a mão. – Japonês ou Malaio, provavelmente, pensou.
Autêntica torre de Babel.
Um aglomerado de refugiados, um pouco mais à frente, chamou-lhe a atenção.
Seriam talvez entre dez e vinte, formando um circulo compacto em torno de alguma coisa que se mexia, ao centro. Áquela distância, não conseguia perceber mais pormenores.
Pegou nos binóculos e voltou a olhar. – Alarme.
- Sector quinze, sector quinze – gritou para o microfone da farda – problemas no sector quinze...
- Pode falar – respondeu a voz da central, pelo intercomunicador.
- Um grupo de vinte individuos, no sector quinze, apedrejando alguém. A vítima está caída e não se consegue defender...
Ficou à espera de ordens. Bastaram cinco segundos.
- Intervenha.
Correu ao longo da passadiço, à procura das escadas mais próximas. Puxou pela arma e, enquanto corria, disparou para o ar, duas vezes.
- Alto – gritou, o mais alto que conseguiu – afastem-se imediatamente. Tenho autorização máxima, e se for necessário, usá-la-ei...
Desceu as escadas e correu para o local. O aglomerado desfez-se, correndo cada qual em sua direcção. Menos um.
O agressor esperou até o soldado se chegar junto a ele, e após o fitar com desdém, atirou com fúria a pedra que ainda segurava na mão.
No chão, a pedra embateu violentamente no peito da massa informe de carne, já bastante ensanguentada, fazendo com que a figura humana prostada ainda soltasse mais um queixume.
O soldado encostou a ponta da arma ao peito do agressor.
- Para trás, imediatamente.
O outro não se deixou intimidar. Com desdém, cuspiu para cima do homem apedrejado, enquanto gritava “ Arur, Arur” ( maldito, em hebraico ). Depois deu meia volta e afastou-se.
Alguns dias depois, veio a saber que o homem, Al-Kitab de seu nome, sobrevivera e fora transferido para outro campo. Ni
De
Jo a 7 de Setembro de 2009 às 12:58
Dizer obrigado e escreve bem nao chega... sem palavras...
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