Ela olhava-me com olhos curiosos.
Sentou-se no meu colo e perguntou-me:
"Porque nao vens brincar? Porque estas a chorar? Caiste?"
Apertei-a contra o meu regaço. Ela é inteligente e perspicaz, mas no entanto a sua inocencia ainda nao a deixou conhecer este mundo...
Por um lado nao quero que cresça. Quero que se deixa estar, com as suas tranças, com a sua vontade de devorar "Chupa-chups", quero que se mantenha assim, com o seu metro e vinte. Nao me apetece que cresça, que conheça o mundo estranho em que vivemos, que sofra... Protejo-a o mais que posso, e quero que o motivo de choro seja apenas um trambolhao ou mais um arranhao... Sei que muitas crianças sofrem, e apercebem-se do que o mundo é cedo demais... Nao deveria ser assim... Deveriam ter tempo para brincar, para sonhar, para rir, deveriam ter motivos de sobra para se sentirem amados e protegidos... afinal, quando crescemos temos tanto tempo para sofrer, para derramar lagrimas, para trabalhar, para endoidecer com este mundo... Porque nao podem todas as crianças simplesmente ser crianças?
Puxa-me pela mao. "Anda brincar! Tu nunca brincas"
Sigo-a... O seu mundo imaginario derrota por momentos o meu mundo real, e recordo que a vida é um recreio, mas nos esquecemos de brincar, a partir do momento que crescemos...
Enquanto penteia bonecas, sorri-me e canta baixinho. Quero rouba-la do tempo, mas percebo a muito custo que a vida é mesmo assim, um ciclo vicioso... e da mesma forma que a tento proteger e a olho ja com saudade, tentara ela um dia proteger a sua descendencia...
"Mama, muitos meninos nao brincam em casa... Mama, muitos meninos nao recebem beijinhos como eu..."
"Filha, muitos adultos nao sabem dar beijinhos, nao sabem dar amor... so sabem causar sofrimento, até mesmo a seres pequeninos e inocentes" - é o que me apetece dizer... mas nao digo... nao quero acorda-la ja...
"Meu amor, todos os meninos tem direito a beijinhos, e a brincar..."
"Todos mesmo, mama?"
"Sim!"
Suspira... "Ufa, estou mais descansada..."
Texto ficticio para a Fabrica de Historias...