Quarta-feira, 7 de Janeiro de 2009

Enquanto o pai assava um frango ao ar livre, Rodrigo olhava as estrelas, enquanto a irmazinha lhe puxava a manga da camisola.

- Deixa-me sua melga! Que paciencia! Maaaeeee!

- Sara, deixa o teu irmao!

A criança, de olhos grandes e cabelo encaracolado, começou a chorar.

- Epa, que seca! Porque é que nao pude ir para Espanha com os meus amigos e tive de vir para ca? - resmungou o adolescente. - Estou farto de ti miuda!

E dizendo isto afastou-se, mesmo demonstrando o seu descontentamento em acampar com os pais em pleno mes de Agosto. Nao era justo! O seu telemovel nao apanhava rede, o portatil sem internet nao servia para nada, e a playstation portatil ja nao tinha bateria... A sua  vida era uma seca. Com dezasseis anos ainda passava férias com os pais e nem sequer pode convidar a sua namorada, com quem "ja" namorava ha dois meses. Definitivamente, a sua vida era do pior que podia haver.

Jantaram. A mae partiu morangos aos bocadinhos e serviu com chantilly como sobremesa. Sara lambuzava-se. O pai e a mae olhavam-nos com olhar enternecido por terem ali os seus dois rebentos.Rodrigo achava-os uma seca. O pai da Mariana, esse sim era "granda cenario". No Inverno ia para a Suiça fazer ski, oferecera uma scooter a filha no seu 16° aniversario e quando foram de férias, para as Canarias, convidara-o, mas Rodrigo nao tivera autorizaçao dos pais para viajar.

Depois do jantar, e de irem passear um pouco, fecharam-se nas suas tendas. Enquanto tentava dormir, sentia os mosquitos picaram-lhe os braços.

Levantou-se e rosnou:

- Foda-se! Melgas do carago!

- Mano, o pai nao te deixa dizer essas coisas... - disse baixinho Mariana, levantando a cabecita.

Rodrigo saiu da tenda, furioso. Foi até a beira do rio e sentou-se a atirar pedras para as aguas paradas.

Olhava para o infinito, perdido em pensamentos. Quando fixou o céu, reparou quao estrelado estava. Na agua viu o reflexo de uma estrela crescer e crescer. Fechou os olhos. Abriu-os. A estrela continuava a crescer. Esfregou o rosto, os olhos e puxou uma mao cheia de cabelos. A estrela continuava a crescer... Foi lentamente que viu uns olhos e uma boca aparecerem naquela estrela.

- Mas que porra! - murmurou. - estou doido!

- Nao estas, nao... - a estrela falava. Estava decididamente doido... ou isso, ou estava a dormir e pensava que nao.

Levantou-se para correr, mas a luz da estrela, maravilhosamente brilhante, impediu-o. Voltou-se de novo para as aguas e observou a estrela.

- Rodrigo, anda comigo... - sentiu um calor rodea-lo e sentiu-se voar.

Quando acordou estava numa rua. Um jovem estava a ser espancado. Rodrigo assistia nervoso. Os agressores acabaram por ir embora e muito a medo, o jovem aproximou-se do corpo atirado no chao. O miudo chorava. Rodrigo ajudou-o a levantar. A vitima, nao teria mais de quinze anos e estava a sangrar por todo o lado.

- Vem... levo-te para casa... onde moras?

- Aqui... - respondeu o adolescente.

Depois de quinze minutos a conversar, Rodrigo descobriu que Joao nao tinha casa. Passava fome, pedia dinheiro na rua, e por vezes esse mesmo dinheiro era roubado por outros miudos de rua. Nao tinha nada. Rodrigo perguntou-se por momentos o que seria viver sem ter comida, sem as sobremesas da mae, sem o computador, sem a playstation. Foi entao que ouviu a doce voz da estrela.

- Vamos... esta na hora..

Mais uma vez a luz envolveu-o e o calor passou por entre cada fibra dos seus musculos.

Quando voltou a si, estava num quarto. Um miudo de cerca de quinze anos estava deitado na cama. Fitava-o com uma certa tristeza, examinando-o dos pés a cabeça.

- E tu és quem?

- O meu nome é Filipe... Tu és o Rodrigo, nao?

Rodrigo acenou afirmativamente.

- Esta um sol tao agradavel, porque é que estas na cama? - as crianças riam e brincavam na rua.

Filipe olhou-o com desalento.

- Eu nao posso andar...

Rodrigo ficou engasgado. Aquele rapaz nao podia correr? Nao podia jogar futebol com os colegas de turma? Nao podia fazer escalada, subir montanhas, atirar-se duma rocha, para mergulhar no mar?

Como que lendo os seus pensamentos, Filipe respondeu.

- Ha muita coisa que posso fazer mesmo nao podendo andar. Mas nunca vou saber o que é correr na areia, ou num campo, onde so se ve a imensidao do céu. E nada do que eu faça me vai alguma vez tirar esta duvida de como seria se eu fosse como tu... ou mesmo... se eu estivesse no teu lugar.

Rodrigo engoliu as lagrimas e sussurrou:

- Estrela, leva-me daqui por favor... Ja percebi que tenho algo que estas duas pessoas que conheci nao tem...

A estrela envolveu-o mais uma vez. Mas Rodrigo nao acordou ao pé do rio. Acordou noutro quarto. Uma miuda estava concentrada a jogar computador. De um lado do quarto, uns tres telemoveis pousados numa mesinha.

Ele aproximou-se.

- Entao, mas tu nao tens nenhum problema fisico, vives bem, tens de tudo. Porque estou aqui?? - inspeccionou o quarto extremamente bem decorado.

- Nao sei - respondeu-lhe a rapariga. - nao sei o que fazes aqui... vieste fazer-me companhia?

- A tua familia?

A miuda encolheu os ombros...

- O meu pai nunca esta ca... a minha mae nao gosta muito de estar comigo. A nossa empregada é a minha companhia, mas isso so duas vezes por semana...

- E irmaos?

- Nao tenho... sou filha unica.

- E amigos?

- Nao tenho muita facilidade em fazer amigos, porque eu tenho tempo livre para tudo, mas eles tem de estar com a familia... Tu queres ser meu amigo? Podes ficar com a minha PS3, e podes jogar no meu pc... se quiseres um dos telemoveis que estao ali, podes ficar... ou até com todos... desde que passes esta tarde comigo.

Rodrigo olhava-a intrigada... Tinha tudo, nao tinha pais aborrecidos, nem irmaos melgas e queixava-se? Nao estava boa da cabeça.

Foi entao, que viu uma lagrima rolar pela face da menina.

- Entao? Calma!

Ela abraçou-o, tremendo.

- Faz-me companhia...So hoje... estou farta de falar sozinha... de tentar acreditar que alguém gosta de mim...

Rodrigo percebeu tudo entao. Depois de jogar com a menina, e de a abraçar mais umas quantas vezes, sentiu-se envolver pela luz, e finalmente acordou a beira-rio. Ja era dia.

Ouviu a vozinha de Sara e correu para ela. Agarrou-a, atirou-a ao ar. Ela ria e gritava de entusiasmo.

Rodrigo percebera finalmente o valor de tudo o que tinha. Percebeu que ainda tinha muito a aprender, mas a prioridade era aprender a amar tudo o que tinha...

A estrela era agora o sol. Sabia-o porque o Sol sorria-lhe. Ele sorriu de volta e agradeceu a liçao, enquanto, com a irma nas costas, caminhava em direcçao aos pais.

 

 

(texto ficticio escrito por mim para a Fabrica de Historias)

 



publicado por Jo às 20:32 | link do post | comentar | favorito

7 comentários:
De Patricia a 8 de Janeiro de 2009 às 08:54
oi


desafio te

aceitas?


entao passa no meu blog


bj


De Jo a 8 de Janeiro de 2009 às 08:56
Bom dia Patricia...

Passo ja la ! beijinhos


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